O PROJETO ORIGINAL DE DOM BOSCO

Dom Bosco foi uma pessoa sensível e inquieta.

Se aprofundarmos o estudo sobre a origem humana do movimento apostólico encaminhado no mundo e na Igreja por Dom Bosco, será forçoso que a encontremos na grande sensibilidade do coração de Dom Bosco. Efetivamente a situação lastimável em que se encontrava a juventude do Piemonte, captada pelo coração sensível, quer na perspectiva humana, quer na dimensão sobrenatural, foi o impulso de todo o movimento apostólico e de toda a obra pastoral, a que deu vida Dom Bosco.

Havia muitos outros sacerdotes em Turim, também colegas de seminário. No entanto, somente ele percebeu, por sua rica sensibilidade humana e pastoral, o chamado para deixar outros caminhos mais cômodos e gratificantes e dedicar-se de corpo e alma “à pobre juventude abandonada”.

Desde 1841, ano de sua ordenação sacerdotal, pensou em formar aquilo que alguns anos depois (em 1850), chamaria de Congregação de São Francisco de Sales, que não deve ser confundida com aquela que mais tarde será a Sociedade de São Francisco de Sales.

Dom Bosco intuiu uma Congregação verdadeiramente original que devia agrupar, sem distinção, homens de toda idade e condição, sócios religiosos com votos públicos e sócios externos sem votos, sacerdotes e leigos…

Essa congregação de São Francisco de Sales foi cada vez mais clareando, polarizando-se em redor dos que, com o passar do tempo, seriam chamados “salesianos internos” ou “salesianos religiosos”.

Efetivamente, em 26 de fevereiro de 1859, Dom Bosco reunia em sua habitação um pequeno grupo de jovens, aos quais propôs “uma experiência de exercício prático de caridade para com o próximo, para mais tarde chegar a uma promessa e depois, se fosse possível e conveniente, passar a um VOTO ao Senhor. A partir daquele momento foram chamados SALESIANOS os que se propuseram tal exercício ou venham fazê-lo no futuro.” (MB v.9)

Junto com este núcleo de “salesianos internos” foi se consolidando o grupo de “salesianos externos”, dando vida assim à audaz e original configuração que, no início, foi a Sociedade Salesiana na mente de Dom Bosco.

UMA SÓ CONGREGAÇÃO COM SALESIANOS LIGADOS PELOS VOTOS E COM A VIDA COMUM E OS SALESIANOS SEM VOTOS RELIGIOSOS, VIVENDO EM SUA PRÓPRIA CASA.

Em 1864, 12 de fevereiro, tinha enviado a Roma para estudo e possível aprovação as Regras e Constituições dessa inovadora Congregação, tão genialmente concebida. As regras constavam de 16 capítulos, o último dos quais era dedicado exatamente aos salesianos externos.

“Todo membro da Sociedade que por qualquer motivo razoável dela sair, é considerado como membro externo e pode ainda participar dos bens da Sociedade, contanto que pratique a parte do Regulamento prescrita para os externos.”

Porém tudo isso era tão avançado e até motivo de escândalo que disseram a Dom Bosco ser impossível aprovar uma sociedade religiosa assim concebida e as Regras que constituíam a base jurídica desta mesma Sociedade “externa”.

Dom Bosco, da sua postura de inquebrantável amor à Igreja e de maturidade, trabalhou sem descanso cerda de dez anos, tentando conseguir a aprovação de sua idéia primitiva. Começou por suprimir, apesar de sentir muito, o artigo 5º., o mais combativo. Ficaram quatro os artigos do Capítulo 16. Enviou outra vez o texto a Roma. Voltam novas observações. Se não se tirar por completo o capítulo 16, as Constituições não serão aprovadas. Novo ato de violência interna para o fundador e novo ato de docilidade difícil e maduro. Tira o capítulo 16 do texto e o coloca no apêndice das Constituições, sem a numeração em artigos. Dia 30 de dezembro de 1873 leva pessoalmente o texto, assim modificado.

Em Roma voltam a dizer-lhe que com aquele capítulo, mesmo transformado em apêndice, as Constituições não seriam aprovadas. Teve que resignar-se e tirá-lo completamente do texto e preparou uma nova edição das Constituições, sem a genial intuição do fundador. “Reduzia assim a Congregação, a Sociedade de só Salesianos com votos e com vida comum, desapareceu qualquer dificuldade e as Constituições foram aprovadas a 03 de abril de 1874.”

Este trabalhoso caminho, ao término do qual a Obra de Dom Bosco chegou, de alguma maneira viciada e mutilada, coloca sem equívoco o verdadeiro pensamento do Fundador:

– Não pensou só em Salesianos Religiosos;

– Os Cooperadores são na mente de Dom Bosco “verdadeiros salesianos no mundo”, tão “salesianos” como os próprios religiosos.

PRIMEIRO REGULAMENTO – 1876

Evidentemente Dom Bosco não desanimou. Não podendo subir e descer a montanha, deu a volta, mas chegou à meta proposta. (MB VII-457).

Assim foi.

Diante da dificuldade de fazer entender às altas instâncias romanas sua ideia de “Salesianos Externos”, pensa imediatamente numa espécie de Ordem Terceira, igualando, de alguma forma, os Cooperadores a ”terciários” dos salesianos.

Para esses salesianos externos, convertidos agora em União dos Cooperadores Salesianos, preparou em suas sucessivas redações ( 1874, 1875, 1876 ) um Regulamento, aprovado afinal pelo Papa Pio IX, a 9 de maio de 1876. É o Regulamento que atualmente está no apêndice do RVA (Regulamento de Vida Apostólica – aprovado em 1986).

Um Regulamento que, nas palavras de Dom Bosco, lhe haviam pedido seus primeiros seguidores e colaboradores, para que servisse como base e vínculo de uniformidade e de espírito dessas instituições populares, os Oratórios. Um regulamento que, no pensamento de Dom Bosco, deve servir de vínculo com o qual “os católicos que desejam podem associar-se aos Salesianos e trabalhar com critérios comuns e estáveis, para manter constantemente e invariáveis as finalidades e as atividades tradicionais” (RVA, p.82).

ANO DE 1876 ATÉ A MORTE DE DOM BOSCO

Há uma afirmação de Dom Bosco, que é como a base de toda a atividade em relação aos Cooperadores. “É preciso – disse – que se conheça a importância dos Cooperadores Salesianos. Até agora parece algo de pouco importância. Porém eu espero que, por meio disso, uma boa parte da população italiana se torne salesiana e nos abra o caminho para assim efetuar muitas coisas”. (MB XI-63)

A partir dessa persuasão explicam-se as palavras do Fundador aos membros do Capítulo Geral I da Congregação Salesiana no ano de 1877:

“Uma Associação importantíssima para nós, que é a alma da nossa Congregação e que nos serve de vínculo para fazer o bem, de acordo e com a ajuda dos bons fiéis que vivem no mundo, é a Obra dos Cooperadores Salesianos”. Daí o convite sistemático que Dom Bosco fazia aos antigos alunos mais conscientes e identificados com seu espírito, para que se fizessem Cooperadores. (MB XIII-759, XVII-177 e XVIII-161).

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